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Writer's pictureVítor Leal Barros

We know nothing about ourselves. We always talk about our desires, and try to hide ourselves desperate and unconsciously. Life becomes almost interesting when you have learned people's lies, and begin to enjoy and notice that they always say something different from what they really think and want... Yes, one day comes the recognition of truth, and that means senescence and death.

Sándor Márai, 'The Candles Burn Down to the Stump'


[EN] How interesting can be a conversation between two old men! The entirely action resumes to a dinner where two friends, or old friends, meet after several years of separation dissecting and revolving some issues from the past. The dinner is more properly a monologue than a dialogue, but it's so incredibly intelligent and universal, so attentive to the human condition! This was one of those books that struck me recently, and thankfully, it has been a long time since I haven't read a story that really encouraged me and caused that butterfly feeling in the stomach. One of these days, a friend from ​​philosophy area just told me ... 'I haven't read too much literature lately, I prefer to read some essays or anything that relates to what I'm studying at the moment' ... How do I understand him. At certain point it becomes hard to find novels that really captures our attention and that are able to carry us beyond the trivial everyday life. Sándor Márai's 'The Candles Burn Down to the Stump' is pure delight for thought.


Não sabemos nada de nós próprios. Falamos sempre sobre os nossos desejos, e tentamos esconder-nos desesperada e inconscientemente. A vida torna-se quase interessante, quando já aprendeste as mentiras das pessoas, e começas a desfrutar e a notar que dizem sempre uma coisa diferente daquilo que pensam e querem realmente... Sim, um dia chega o reconhecimento da verdade: e isso significa a velhice e a morte.


Sándor Márai, 'As velas ardem  até ao fim', editora Dom Quixote



[PT] Como uma conversa de velhos pode ser tão interessante! A acção resume-se quase exclusivamente a um jantar em que dois amigos, ou antigos amigos, se encontram após muitos anos de separação e resolvem dissecar alguns temas do passado. O jantar é mais um monólogo do que propriamente um diálogo, mas é tão incrivelmente inteligente e universal, tão atento à condição humana!

Este foi um daqueles livros que me marcou recentemente e ainda bem, pois há muito ansiava uma história que realmente incentivasse à leitura e me provocasse aquele frio no estômago. Noutro dia, alguém da área da filosofia disse-me... 'não tenho lido muita literatura ultimamente, prefiro ensaio ou então qualquer coisa que esteja relacionada com o que estou a estudar no momento'... como eu o compreendo! A partir de certa altura torna-se difícil encontrar ficção que realmente nos capte a atenção e seja capaz de transportar-nos para além do trivial quotidiano. 'As velas ardem até ao fim' de Sándor Márai é puro deleite para o pensamento.

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Writer's pictureVítor Leal Barros

Updated: Dec 17, 2019


Douro Valley. Miradouro de Casal de Loivos

[EN] My empathy with the Douro Valley is weird. It's an old thing. I remember, when I was a child, some trips with my parents and, even then, I already felt that the land owned me. It was as if each landscape element spoke close to me. On any terrace, any cypress or white cluster, that rises here and there, everything seems so familiar, as if the earth and the voice that I hear inside my head talked the same language.


[PT] É estranha a minha empatia com o Douro. É uma coisa antiga. Lembro-me de em criança fazer passeios com os meus pais e já nessa altura sentir essa terra como minha. É como se cada elemento me falasse intimamente. Em cada socalco, em cada cipreste, em cada aglomerado branco que se ergue aqui ou ali, tudo parece tão familiar, como se a terra e a voz que escuto dentro minha cabeça falassem o mesmo idioma.


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Writer's pictureVítor Leal Barros

Alexandra Barbosa, 'Conforto desconfortável I', 2011

[EN] About Alexandra Barbosa's art. Since I saw her work for the first time there was an instant connection, which extended to the personal field as we  have known better each other. The work of Alexandra revolves around a beloved theme to me - the house - and it's interesting to see how other authors, non architects, think about it. Before any other image of the house, the first that ever visit my head is the 'house' as a space. On the daily exercise of my work, I try to understand how people live or could possible live. My quest is essentially achieve a proposal that fit these specific ways of living and, if it is possible, enhance it, by designing solutions that can generate some other forms of dwelling. The greatest difficulty in this whole process is to find the balance between the materialization of the idea and the freedom that the same idea gives to the audience who will be experiencing it. What do I mean with this? The idea of ​​producing an architecture that overlaps the dwelling, in which space characteristics require users of living this or that way, doesn't please me so much. My everyday question is: How far do I have the right to intervene, while proposing new ways of living? I think this will be forever the question of my life. The boundary between a 'democratic' architecture while creative is very tenuous, History proves it. The most extraordinary works, by the creative point of view, are often examples of  a 'dictator' architecture, not to say almost always. Baroque is a good example of that. Producing  intentionally, by space design, an idea of ​​illusion on users is, by itself, a form of manipulation,  no matter how generous the intentions might be in its genesis. By carefully analyzing Alexandra's work, the question I put myself before arises even more pertinent. For her, the house is primarily a refuge, a place where we can put our emotions at safe and defend our memories. It's a concept of house as an uterus, which protects and nurtures, which cares and welcomes. All her iconography wander around the idea of the house as home, of the house as affection, with all the inherent vicissitudes. Alexandra did not materialize in her prints the image of a perfect home. Sometimes we are faced with a kind of shell-house, protective, sometimes it appears as an eternal maze, by the overlap of shapes that outline spaces and confusing paths, stairways and corridors that seem to lead us nowhere. However, despite the greater or lesser serenity of each picture, to Alexandra's the house is always a refuge place, it is the uterus that we can always return, no matter how wandering the way might be. It is the mother. It is the house that welcomes the faithful and the prodigal son. It is the background of the eternal human imperfection. Above all, it is the house that doesn't dictate rules and understands. These are the houses we want Alexandra. 


[PT] Sobre a obra artístico de Alexandra Barbosa. Desde que vi o seu trabalho pela primeira vez houve uma afinidade imediata, que se estendeu ao campo pessoal assim que nos fomos conhecendo. 

A obra da Alexandra gira em torno de um tema que me é caro - a casa - e é interessante perceber como o pensam outros autores, que não arquitectos.

Antes de qualquer outra imagem de casa, a primeira que visita sempre o meu pensamento é a 'casa' enquanto espaço. Há no exercício diário do meu trabalho a vontade de entender como habitam ou podem habitar os outros. A minha busca passa essencialmente por adequar uma proposta a esses modos específicos de habitar e, sempre que possível, potencializa-los, desenhando soluções que possam gerar outras formas de poder faze-lo. 

A maior dificuldade em todo este processo é encontrar o equilíbrio entre a materialização da ideia e a liberdade concedida ao público que dela vai usufruir. Que quero dizer com isto? Não me apraz a ideia de produzir uma arquitectura que se sobreponha ao habitar, cujas características do espaço obriguem o utilizador a viver desta ou daquela maneira. A questão que coloco em cada exercício é esta: até onde terei eu o direito de intervir, propondo simultaneamente novas formas de habitar? Penso que será para sempre a pergunta da minha vida. 

A fronteira entre uma arquitectura 'democrática' e criativa é muito ténue, a História comprova-o. As obras mais extraordinárias do ponto de vista criativo são muitas vezes exemplos de uma arquitectura 'ditadora', para não dizer quase sempre. O Barroco é um bom exemplo disso, produzir intencionalmente através do espaço uma ideia de ilusão no utilizador é, por si só, uma forma de manipulação, por mais generosas que possam ser as intenções que estão na sua génese.

Ao analisar cuidadosamente o trabalho da Alexandra, a questão que me colocava há pouco surge ainda mais pertinente. Para ela, a casa é sobretudo um refúgio, um local seguro onde podemos guardar as emoções e defender a memória. É o conceito de casa enquanto útero, que protege e alimenta, que cuida e acolhe. 

Toda a sua iconografia deambula em torno da ideia de casa-lar, casa-afecto, com todas as vicissitudes inerentes. A Alexandra não materializa nas nas suas gravuras a imagem de um lar perfeito. Ora nos deparamos com a casa-concha, protectora, ora ela surge como um eterno labirinto, pela sobreposição de formas geométricas que desenham espaços e percursos confusos, escadas e corredores que parecem levar-nos a lugar nenhum. 

No entanto, e apesar da maior ou menor serenidade de cada gravura, para a Alexandra a casa é sempre o porto de abrigo, o útero ao qual podemos sempre voltar, por mais ou menos errante que seja o caminho.  É uma casa mãe. É a casa que acolhe o filho fiel e o pródigo. É o pano de fundo da eterna imperfeição humana. É sobretudo, uma casa que não dita regras e compreende. 

São estas as casas que queremos Alexandra.

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